quarta-feira, 7 de maio de 2008

Contos da tradição

A Princesa Encantada
Havia noutro tempo num rei e que tinha uma filha muito sábia e que disso tinha muito bazófia
Um dia ela pediu ao pai que mandasse deitar um pregão para que toda a gente viesse ao palácio responder ao que ela perguntasse.
Assim se fez mas com a promessa de quem se fosse mulher que respondesse bem teria uma boa recompensa e fosse homem casava com a princesa.
Com tão boa promessa veio toda gente ao palácio , mas ninguém sabia responder às perguntas feitas pela princesa.
Faltava um lavrador, que disse para um criado que lhe aparelhasse a égua para ir responder á princesa.
O criado que era muito bruto mas ladino disse-lhe:
Ó meu amo deixe-me ir também.
Ó alarve que hás-de tu responder
Não sei, mas tenho cá uma daquelas impressões que hei-de saber responder.
O lavrador riu-se muito, mas disse que sim e, o rapaz foi vestir o seu fato domingueiro mas passando por uma méda de lenha tirou uns poucos de paus que meteu no bolso e o mesmo fez a um ovo de uma galinha que acabava de pôr.
O lavrador viu e nada disse mas o rapaz disse-lhe:
- Ande lá meu amo que tudo serve.
Montaram-se os dois cada um em sua égua e foram a caminho do palácio.
O lavrador no meio do caminho teve uma necessidade, apeou-se e foi satisfazê-la. O criado tirou do bolso um lenço de seda, apanhou a merda e guardou, como tinha feito à lenha, dando a mesma resposta ao amo – de que tudo servia.
Chegaram, e o lavrador foi o primeiro a ir ouvir a princesa mas nada soube responder e mandou o rapaz visto que eram admitidas pessoas de todas as classes.
A princesa abriu uma porta e disse:
Eu sou um fogo
Frite-me lá este ovo, disse o rapaz.
Não tenho lenha disse a princesa
Aqui estão uns pauzinhos
Você é um porco
O moço tirou do bolso o lenço de seda onde tinha guardada a merda do amo e disse-lhe aqui tem uma prova.
A princesa ficou desesperada por ser aquele bruto a única pessoa que lhe tinha sabido responder, mas como palavra de rei não volta atrás o rei lá casou filha com o moço.
E o Senhor seja louvado porque o meu conto está contado.
A Velha
Era uma vez uma velhinha muito velha, muito amarrecada que, andava sempre a pedir esmola, fazendo uma grande lamúria: - que não tinha ninguém, que era muito desgraçadinha, que estava para ali abandonada, etc etc.
Mas dizia-se que a velha tinha em casa muitos haveres e, por isso um dia, enquanto a velha foi à fonte, um ladrão entrou-lhe em casa e meteu-se debaixo da cama.
A velha quando entrou em casa viu-lhe um pé.
Esteve quase para gritar mas teve medo que ele a matasse e por isso nada disse, mas deixou a porta da rua aberta.
No quarto, a velha tinha uma cómoda em cima da qual tinha um oratório com um crucifixo e vários santos.
Ajoelhou-se pôs-se de mãos postas e erguidas e começou a dizer
Ó meu Senhor eu quando era moça namorava um rapaz muito bonito, depois meu Senhor casei com ele e quando vim para casa tirou-me o véu. E já falando bastante alto - - que vergonha meu senhor !
Depois tirou-me o vestido, ai que vergonha que eu tenho de dizer estas coisas.
Depois foram as saias, as botas. E já a gritar - ai, ai, ai que vergonha a minha.
Os vizinhos ao ouviram aquela gritaria toda, acudiram para ver o que era. A velha assim que sentiu gente em casa, sem mudar de posição gritava – Vejam debaixo da minha cama que está lá um ladrão.
Os vizinhos foram ver e lá estava o homem que levou uma bela sova e assim se livrou a velha de ser roubada e morta.
E o Senhor seja louvado que o meu conto está acabado.
O Baguinho de milho
Era uma vez uma mulher e um homem que queriam ter um filho ainda que fosse ao menos do tamanho de um bago de milho.
Passado algum tempo a mulher teve um filho que era mesmo desse tamanho fazendo-lhe assim Deus a sua vontade.
Um dia o filho quis ir levar o jantar ao pai e a mãe deixo-o e ela lá abalou com o tarro e o talego.
Chegou lá, entregou o jantar ao pai e ele, o baguinho de milho foi-se pôr a brincar em cima de uma folha de couve, mas veio um boi e comeu-o. Ele começou a gritar lá de dentro da barriga do boi;
Pai, mate o boi que eu dou-lhe dinheiro para comprar três ou quatro bois.
O pai matou o boi e saiu o baguinho.
Para que pudesse arranjar o dinheiro para cumprir com o que tinha dito ao pai o baguinho foi-se a correr mundo e chegou a uma casa onde estavam uns ladrões e ouviu o capitão dizer:
Fechem bem as portas não veja alguém o que vamos fazer.
E começaram a repartir o dinheiro dos roubos. O baguinho pôs-se no meio da mesa. Um dos ladrões deu-lhe um encontrão e o baguinho foi contra uma parede e pôs-se aos gritos:
Não me empurre, não me empurre.
E pôs-se outra vez no meio da mesa. Feitos os repartimentos, disse o baguinho de milho:
Ainda falta um quinhão:
Respondeu o capitão:
Ainda falta um quinhão ? Eles já todos têm, mas pôs uma bolsa em cima da mesa para quem a quisesse apanhar.
Diz o baguinho de milho:
Não é para quem a quisesse apanhar, essa é para mim.
E depois foram jantar. Ele também quis comer e deram-lhe de jantar. Depois de barriga cheia, o baguinho de milho meteu-se dentro da bolsa do dinheiro e foi rebolando para casa da mãe que já tinha muitas saudades suas.
De seguida foi procurar o pai para lhe dizer:
Eu bem lhe tinha dito que lhe arranjava dinheiro para comprar três ou quatro bois.
Ficaram todos muito contentes e o Senhor seja louvado que o conto está acabado.
O Copo de oiro
Era uma vez um rei e uma rainha que viviam muito desgostosos porque não tinham filhos. E muito pediram a Deus que lhe desse um filho e que quando o filho tivesse 18 anos iria ele próprio a Roma sozinho pagar uma promessa. Foram ouvidos por Deus e ficaram muito contentes quando nasceu o príncipe.
Quando ele se ia aproximando dos 18 anos começaram os pais a andar muito tristes porque o filho tinha que ir sozinho a Roma pagar a promessa.
Chegados aos 18 anos preparou-se para partir para Roma e a rainha quando dele se despediu, deu-lhe um copo de ouro e deu-lhe três pêras, dizendo-lhe que as não partisse sozinho, que as partisse acompanhado e que só aceitasse por companheiro de viagem aquele que lhe desse o bocado maior e que nunca acompanhasse com aquele que lhe desse o bocado mais pequeno.
O príncipe saiu de casa para cumprir a promessa. No meio do caminho encontrou um homem ao pé de uma fonte e pediu-lhe que partisse uma das pêras e o homem deu-lhe a parte mais pequena e não acompanhou com esse homem. Encontrou outro junto de outra fonte e que lhe fez o mesmo e, á última pêra encontrou, junto de outra fonte outro homem e este deu-lhe o bocado maior e foi com este que ele acompanhou. Fizeram-se amigos e lá partiram os dois para Roma.
Em todas as hospedarias ficaram sempre no mesmo quarto, e quando chegaram à última hospedaria, á hora da ceia, o príncipe tirou do saco o copo de ouro para beber água e a dona da casa não tirava os olhos de cima do copo e o companheiro reparou nisso.
Quando disseram que se queriam ir deitar e que queriam dormir juntos, a dona da casa disse que não era costume naquela hospedaria dormirem duas pessoas no mesmo quarto e eles ficaram muito tristes.
Cada um foi para o seu quarto e pela noite adiante ela foi ao quarto do príncipe, matou-o e tirou-lhe o copo, depois escondeu o cavalo e ao príncipe levou-o para uma estrumeira a enterrar.
Pela manhã, quando o companheiro se levantou e perguntou por ele, a dona disse-lhe que ele tinha abalado e ele ficou muito admirado e não acreditou.
Foi dali a casa do juiz e contou-lhe o sucedido e a sua desconfiança de que havia crime por causa do copo de ouro que era de muito valor.
O juiz disse-lhe que isso se arranjava bem, que ele conhecia a mulher e lhe mandaria pedir uns copos emprestados. E assim fez. A mulher mandou uns copos de vidro e como o juiz pediu mais copos ela mandou-lhe outros de cristal e como o juiz pedisse mais copos mandou-lhe uns de prata e entre eles um de ouro, que era o tal.
O homem assim que o viu conheceu-o logo. A dona da casa foi logo presa e obrigada a dizer onde estava o príncipe e o cavalo. Confessou tudo e o homem foi a desenterrar o príncipe e, mesmo assim morto montou-o no seu cavalo, segurou-o no cavalo e lá abalaram para pagar a promessa do príncipe.
Quando chegaram á igreja ficou o príncipe à porta montado no seu cavalo e ele foi fazer a oração como se fosse o seu amigo e deu-lhe vontade de olhar para trás e viu o príncipe a fazer a oração e chorava e entendeu ser isto um grande milagre. Depois disto voltaram ambos para as suas casas.
Quando se despediram, o príncipe deu-se a conhecer e queria levar o companheiro para o palácio, mas ele não aceitou porque também ia para a companhia de seus pais que eram lavradores. O príncipe disse-lhe que se alguma vez precisasse que o procurasse no seu reino.
Passados anos os pais do companheiro morreram e ele ficou muito pobre e lembrou-se do oferecimento do seu amigo príncipe. Dirigiu-se para o palácio e disse que lhe queria falar, este conheceu-o logo e valeu-lhe em tudo, assentando-o à sua mesa e tratando-o como a um irmão e não consentiu que ela saísse mais do palácio onde ficou a viver para sempre.
E o Senhor seja louvado que o meu está acabado.
O Galo
Era uma vez um galo que andava a esgravatar num campo e achou uma bolsa cheia de moedas de ouro.
Começou a pensar a quem daria as moedas que melhor o recompensasse e decidiu que as levaria ao rei. E lá partiu a correr a caminho do palácio com a bolsa ao pescoço.
No caminho encontrou uma raposa que lhe disse:
Amigo galo onde vais com tanta pressa ?
Vou levar esta bolsa com moedas ao nosso rei.
Mas se tu não te importares também gostava de ir.
Então mete-te aqui no meu rabo.
A raposa assim fez.
O galo sempre correndo encontrou no seu caminho um montão de pedras que lhe perguntaram :
Aonde vais galo ?
Estou com muita pressa pois vou levar esta bolsa de dinheiro ao nosso rei.
Ó amigo galo, se nos deixasses, nós gostaríamos muito de ir contigo.
Se quiserem vir comigo metam-se aqui para o meu rabo.
Correndo, correndo lá abalaram.
Mais adiante encontrou uma ribeira e um enxame de abelhas que sabendo o que o galo ia fazer pediram-lhe com os deixasse ir com ele até ao palácio do rei.
E o galo disse-lhes metam-se no meu rabo.
E assim chegou o galo ao palácio do rei, cheio de todas aquelas coisas e logo pediu para falar com o rei pois queria entregar a bolsa com as moedas de ouro ao rei.
O rei mandou o galo subir aquelas escadarias todas e recebeu-o na sala do trono, onde o galo lhe entregou a bolsa com as moedas de ouro.
O rei assim que se apanhou com as moedas, mandou-o meter no galinheiro, junto com os outros galos e galinhas.
Ficou o galo muito zangado, porque não esperava da parte do rei aquela atitude mas sim uma grande recompensa em troca da bolsa.
O galo que não era parvo nenhum e para se vingar do rei deixou sair do rabo a raposa e esta comeu as galinhas todas.
O galo pôs-se no poleiro a cantar:
Qui-quiri-qui-qui
Venham ver o que eu fiz.
Vieram todos a correr para ver o que passava no galinheiro e, o que viram ? Não havia galinhas nem galos.
Disse o rei:
Metam o galo dentro de um pote e ponham-lhe uma também uma tampa bem pesada para ele não possa sair de lá.
Assim fizeram.
O galo também não gostou daquilo e, assim que se viu encerrado deitou fora as pedras e o pote partiu-se todo aos bocados.
E o galo pôs-se a cantar:
Qui.quiri-qui-qui
Venham ver o que eu fiz
Foram dizer ao rei o que o galo tinha feito e ele ordenou que metessem o galo num forno bem aceso para o queimar todo.
Assim que lá o meteram, o galo largou a ribeira que logo apagou o fogo.
E o galo saltou para o telhado e começou a cantar:
Qui.quiri-qui-qui
Venham ver o que eu fiz.
O rei, desesperado já não sabia o que fazer à vida e então ordenou - tragam cá o galo, esse maroto, que eu lhe quero cagar em cima. Mas assim que o rei se despiu, o galo largou de imediato as abelhas que se pegaram todas ao corpo do rei que já escorria sangue por todos os lados.
Assim que viram o estado em estava o rei levaram-no dali para a cama quase morto.
Visto que ele fazia tantas maldades e como não conseguia ver-se livre dele, o rei deu-lhe outra bolsa cheia de moedas de ouro com a condição de se ir embora do palácio o mais depressa possível.
O galo assim fez.
Agradeceu aos seus amigos que o acompanharam e lá abalou a correr.
Quando chegou à sua terra distribuiu o dinheiro pelos pobrezinhos que era muito mais bem empregue do que no rei.
Seja Deus louvado
Está o meu conto acabado.

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