quarta-feira, 7 de maio de 2008

Trajes usados no alentejo

No espaço português, de acordo com as diversas coordenadas geográficas, profissionais, económicas, sociais e religiosas da população, existem de certo várias culturas no sentido etnológico do termo.
Apesar da diversidade, parece-me que fará sentido falar do Trajo Alentejano de traços constantes da nossa identidade.
É que o Alentejo, terra de horizontes largos, terra de solidões, onde os sonhos têm espaços e onde floresce a autenticidade lutando contra ventos adversos, mudanças de vontades e quebra sistemática de compromissos, mantém-se como guardião da tradição, mantendo viva esta maneira secular de afirmar a diferença e a divulgar a expressão de identidade que nos caracteriza.
Sabemos que no passado cada lar do povo alentejano possuía, provavelmente desde os princípios do século XIII, um tear onde a mulher transformava a lã nos artefactos necessários ao agregado familiar, tanto tecendo os panos para roupa como as mantas que os protegiam das friagens da noite.
Em certas zonas, onde as condições o permitiam esses teares serviam também para tecer o linho e a estopa, igualmente para certas roupas quer de homem quer de mulher.
Como nem só de linho e lã o povo se vestia, apareciam de vez em quando os almocreves que, na sua carroça puxada a bestas passavam pelos montes e pelas localidades mais pequenas para vender outros panos para a confecção de peças de vestuário ou para uso doméstico.
Em intervenções deste género temos normalmente a intenção de abordar sobretudo na parte rural, ou seja quem trabalhava no campo, esquecendo muitas vezes que outros homens doutros saberes e conhecimentos satisfaziam as mais necessidades locais. Temos então e com oficina aberta os oleiros, os canteiros, os ferreiros, os cutileiros, os artesãos de cobre e estanho, os chocalheiros, os latoeiros e tantas outras
actividades que eram indispensáveis ao quotidiano alentejano. O trajo deste homens eram em muito semelhantes, calça de cotim e camisa de riscado, botas de atanado, talvez por isso tenham merecido pouca atenção.
Os trajos definem com expressão o gosto, a cultura e a economia do povo e de certo modo são emblemáticas e identificativas do povo.
Não querendo historiar toda a evolução do trajo diremos que, com a simplificação da vida que se nota no inicio do século XIX, a mecanização, a facilidade de transporte, etc, influenciaram decisivamente o trajo urbano.
Paralelamente, o traje campesino mantém muito das suas características, ocasionadas por razões económicas e dificuldades de comunicações. Talvez por tais factos o trajo regional português é considerado dos mais ricos em cor, em elegância e imaginação, distinguindo-se dezenas de modelos desde o Campino do Ribatejo, as Pastor do Alentejo, às Vareiras do Porto à Lavadeira da Maia, das Noivas de Viana do Castelo às Capuchas de Viseu, do Lavrador Alentejano ao Pescador da Nazaré.
O trajo usado nas diversas fainas do campo quer pelo homem quer pela mulher eram muito semelhantes, diferenciando-se sobretudo pelos utensílios necessários ao desempenho dessas mesmas tarefas.
Já foi referido durante o IV Curso de Etnografia realizado pelo INATEL em Albufeira em Out/Nov 2003, que a forma de trajar tem muito a ver com as condições de trabalho, climatéricas e geográficas e, sobretudo a área sendo de latifúndio, condiciona em muito a forma de trajar.
Certamente que depois de apresentado o trabalho este mesmo irá ser enriquecido tendo em atenção o vosso contributo e que depois será divulgado junto de todos os grupos da nossa zona.
Todos sabemos que as meninas começavam muito cedo a aprendizagem das tarefas do lar e, entre outras coisas da maior importância era a confecção de roupa, sobretudo aquela de “trazer”, isto é aquela que era usada no dia a dia,
quer de homem quer de mulher.
Não iremos aprofundar estilos ou modelos na medida em que essa parte cabia à criatividade e imaginação de cada uma. É que mais ou menos folhos, mais ou menos rendas a enfeitar as blusas ou barras nas saias em nada alterava a forma, estilo ou modelo.
Circunstancialmente havia peças (vestidos, blusas, saias, etc) que eram muitas vezes feitas pelas costureiras.
Quanto à roupa de homem por ser mais universal requeria menos cuidados, mas também era feita muitas vezes pelo alfaiate.
Relativamente aos trajos do Alentejo teremos:
HOMENS
Lavrador Alentejano – homem abastado e proprietário
Calça, colete e jaqueta de lã . A jaqueta com alamares
Cinta de merino
Botas finas
Chapéu
Camisa de linho
Na camisa usava abotoadura de ouro
No colete usava relógio de algibeira com correntes de ouro
No Inverno usava samarra com pele de borrego ou raposa
Usava também no Inverno Capote de lã, até aos tornozelos, com gola de pele de raposa ou Astracã, ou ainda capa de fazenda de lã escura até a meio da perna, forrada a veludo de cor.
Pastor
Calça e colete de cotim – no Inverno seriam de saragoça ou serrobeco , antes estamenha (mistura de lã grosseira e linho)
Camisa de riscado
Botas de atanado cardadas
Meias de linha – sempre escuras
Safões e pelico de pele de borrego
Cinta
Chapéu
No Inverno usava também capote aguadeiro de burel castanho para se abrigar da chuva e do frio
Alforges
Taleigo
Corna
Azeiteiro
Tarro
Cajado com gravato na altura de afilhação dos borregos acabados de nascer
Fatos de trabalho, com alguns dos utensílios
Abegão – trabalhava também de carpinteiro
Carneireiro – tratava dos carneiros depois de serem tirados das ovelhas
Eguariço – tratava das éguas
Ganhão - trabalhava com a junta de bois
Guarda – Azeitona, favas e outros cereais
Hortelão – tratava da horta
Jornaleiro – Gadanha, enxada, mangual
Manageiro – controlava o trabalho
Carreiro – carro com fueiros, gorpelha, , forquilha e barril de barro
Limpador de oliveiras – machado, tesoura e escada
Porqueiro - cajado
Vareiro – porqueiro de montado com a vara de porcos
Semeador – saco de sarapilheira onde transportava a semente
Tirador de cortiça – machado e escada
Vaqueiro – cajado
Os trajos e utensilios usados por estes homens era constituído por:
Alforge
Azeiteiros de corno(usados para o azeite e vinagre)
Barril para a água, sendo no entanto mais usada a cabaça por ser mais leve e fácil de transportar
Corna - parte de corno - (usada para sal ou azeitonas)
Sertã -(para fazer comida quando não levava tarro)
Calça e colete de cotim
Relógio de algibeira no bolso do colete
Camisa de riscado
Chapéu ou boné de orelhas ou barrete preto
Cinta
Lenço que usava ao pescoço por baixo do chapéu para se resguardar do sol
Meias de linhas , sempre escuras
Safões de lona
Taleigo ou alcofa de palha
Tarro.
No Inverno usava capote aguadeiro de burel castanho
MULHERES
Trajos de trabalho – com alguns utensílios
Ceifeiras – foice e canudos para proteger os dedos
Mondadeiras – Sacho, manguitos e/ou punhos feitos de cotim
Azeitoneiras – alcofa (enredo) ou canastra de verga
Os trajos eram constituídos por:
Chapéu
Lenço
Saia de riscado da qual fazia calças aquando do inicio do trabalho
Blusa de chita ou gorgorina
Avental de chita
Meias de linha que variam de cor de terra para terra
Sapatos de atanado
Xaile escuro
Taleigo
Tarro
Panela de barro, quando faziam a comida
Trajos de Homem domingueiros/festa:
Calça, colete e jaqueta
Camisa de riscado ou linho
Cinta de merino – sarja preta
Botas finas
Chapéu
Meias de linha – sempre de cor escura
Relógio de algibeira com correntes de prata ou cordão de linha com várias cores ou ainda com atacadores das botas.
Trajos de mulher domingueiros /festa
Blusa de algodão, gorgorina
Saia
Meias de linha trabalhadas
Sapatos finos
Caixiné
Lenço de seda
Xaile com barra de seda
Outros trajos há que têm a ver com a região devidamente estudados.
Temos por exemplo
A Coca
Trajo de ir à missa mas que teria sido de noiva, depois usado aquando da viuvez
Composto por
Saia e blusa de tecido preto (lã, merino, algodão, outras)
Sapatos pretos
Meias pretas
Na cabeça levava uma pequena capa com um véu preto pela frente e que lhe descia até à cintura.
Trajo muito semelhante ao Bioco usado no Algarve.
Trajo de Casamento
Como e do conhecimento de todos a década de 30 do século passado alterou profundamente a maneira de vestir do povo do Alentejo.
A mulher com posses naturalmente vestia de forma diferente.
Assim teremos:
Saia de lã comprida com bastante roda (4 panos), castanha, verde escuro ou azul escuro
Blusa clara de seda com gola redonda ou de cós alto
Casaco justo com abas a cair da cintura. No interior do casaco eram colocadas barbas de baleia para adelgaçar a figura.
Sapatos pretos
Meias bordadas
Na cabeça levava uma pequena capa com um véu preto que caía até quase á cintura.
A mulher do campo trajava de forma muito mais simples
Assim teremos
Blusa clara de gola redonda e de abas sobre a cintura
Saia comprida
Lenço de seda ou caixiné na cabeça
Sapatos pretos
Meias de linha
Dadas as dificuldades económicas sentidas, não poucas vezes este neste trajo servia para várias noivas, pois emprestavam umas às outras.
Trajo de Festa de Nisa
Camisa de quartinho (roupinha)
Tecido de algodão estampado, justa ao corpo, decote redondo, apertado na frente com colchetes de metal. Cintura com cós, manga comprida com macho na cabeça e pregas junto ao punho que abotoa com botões de madrepérola.
Saia
Tecido de lã vermelho
Comprida e rodada, cintura com pregas rematadas com fita de algodão e pequena abertura lateral. Aperta com botão
Barra decorada com recortes pespontados e guarnecida com fita de algodão.
Lenço da cabeça
De sarja de seda de cor natural, lavrado com fio de seda, motivos florais e vegetalistas.
Xaile
Triangular de tecido de lã branca bordado com fio de algodão matizado (várias cores) a ponto de cadeia e nozinho, formando motivos florais e vegetalistas,
Franja de fios de lã
Meias de linha branca bordadas
Sapatos pretos, biqueira redondo, apertam com atacadores de algodão preto, salto pequeno e sola de couro.
Trajos há que pela sua singularidade se tornam emblemático sobretudo se dizem respeito a ocasiões únicas ao longo do ano, neste caso o:
Trajo do Acabamento
A mulher ia vestida como todos os dias aquando da apanha da azeitona. Nesse dia só eram apanhadas meias dúzia de oliveiras que tinham ficado de propósito por apanhar.
No final a mulher vestia saia de riscado de 4 panos, blusa de chita com enfeites de folhos ou grega, caixiné atado atrás, xaile de lã, avental bordado mantendo os sapatos de atanado e as meias de linha.
Em conjugação com os homens faziam, um com um lenço, uma bandeira na qual penduravam peças de enchidos (chouriços, morcelas ou farinheiras) e percorriam algumas ruas da localidade cantando e dando vivas ao patrão e ao manageiro, esperando sempre que a bandeira “engordasse” de enchidos, dados pelo patrão ou pela patroa. No final confraternizavam todos entre si a que juntava o patrão e a patroa.
Não havendo diferenças de fundo quanto à forma de trajar do Alto para o Baixo Alentejo, no entanto aqui deixo algumas formas de trajar, sobretudo na parte mais sul:
Apanhadeira de azeitona – Serpa
Chapéu de aba virada para cima
Lenço de cabeça de algodão com fio de seda sempre atado atrás
Xaile de lã grosseiro
Meias de linha
Saia comprida de riscado
Blusa de chita
Avental comprido de riscado
Sapatos de atanado atacados
Cesto redondo c/asa feito de cana
Campaniça – mulher do campo
Lenço atado à frente
Blusa de chita , gorgorina ou gorgorão
Corpete
Saia comprida
Sapatos de atanado fechados xaile meias de linha
Relativamente às roupas interiores a mulher usava a camisa, cuecas e colete.
Em certas zonas as cuecas eram chamadas de cú aberto isto é, podiam fazer as necessidades fisiológicas de pé.
Com trajos mais finas usavam corpete e saia atada à cintura.
Os homens passaram a usar a certa altura ceroulas de pano cru ou riscado atadas com nastro em baixo e na cintura.
Posteriormente começaram também a usar camisolas interiores de cor escura.
Tamborileiro – animava festas ou fazia pregões
Chapéu de aba larga virada para cima
Camisa de riscado com colarinho redondo ou colarete.
Jaqueta, colete e calças de cotim c/boca de sino
Botas de atanado
Meias de linha escuras
Tambor com cerca de 50 cm de diâmetro
Pífaro com 3 buracos (lata, cana, madeira)
Tocador de viola campaniça
Calça, por vezes de boca de sino e colete de cotim
Camisa de riscado
Botas grosseiras
Chapéu de abas viradas para cima
Viola campaniça
Ervanário
Chapéu de aba larga
Camisa de riscado ou de linho
Jaqueta, colete e calças direitas de cotim
Botas de atanado
Alforge
Barril de barro ou cabaça para a água
Manta
Vários molhos de ervas já secas prontas para serem utilizadas nas mezinhas ou chás
Pescador
Calça de cotim
Camisa clara
Barrete preto
Descalço.
Temos que contar também com as muitas influências que se faziam sentir face às migrações. Sempre levavam, sempre traziam e assim as gentes sobretudo as rurais sem o sentirem acabavam por adquirir hábitos novos nem sempre condicentes com a sua maneira de ser e estar.
Nunca é tarde para preservar as nossas tradições se o tarde for agora.

Um comentário:

natoegabel disse...

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