quarta-feira, 7 de maio de 2008

Crenças

Crenças, superstições e usos tradicionais
Meteorologia pastoril
O que mais preocupava o espírito dos camponeses era a chuva.
Há dezenas de prenúncios a este respeito sendo alguns bem extravagantes.
Para melhor compreendermos convém descrevermos a terminologia popular.
Comecemos pela chuva.
Os elementos em que se baseia toda a classificação popular são neste caso a duração, a intensidade ou a abundância.
- Aguaceiro
Chuva forte mas intermitente sempre acompanhada de vento.
Chuva de pedra – granizo - chuviscos
Análoga aos Aguaceiros diferindo na quantidade que neste é menor e sem serem acompanhadas de vento.
Murraceiros
Chuva miudinha e persistente sem vento e com temperaturas mais elevadas.
Orvalheiras
Chuva das madrugadas de Verão a que também se chamam de choradeiras.
Branduras
Chuva parecida aos murraceiros mas acompanhada de brisa do Sul e com temperaturas elevadas.
As Nuvens
Também têm a sua classificação.
Rabos de gato ou de galo, quando se apresentam sob a forma de rectas ou curvas
Céu pedrento quando se apresentam em círculos
Castelos prenuncio de trovoadas
Aguaceiros ou céu velho quando se apresentam com auréola ou esplendorosas.
Ventos
Vento Norte ……………….. N
Travessia alta ……………… NW
Travessia ………………….. W
Travessia baixa ……-……… SW
Vento Sul ……………….…. S
Vento de Espanha ….........… NE a SE
Quanto à velocidade
Viração – Vento fraco do Sul no Verão
Arilho – Vento fraco e frio
Brisa – Vento regular e húmido
Ventinho – Vento mais forte
Ventania – Vento forte e ás rajadas
Rajadas – Vento incerto
Salseiro – Vento baixo e violento
Furacão – Vento muito violento
Nortadas – Vento do Norte
Suão – Vento morno do Sul
Quando ao cair da noite os mochos piam muito esperam-se nevoeiros e as névoas trazem chuvas.
Quando as galinhas se catam olha-se para onde tem a cauda virada pois a sua posição indicam donde virá a chuva.
Quando ao pôr do Sol as milheirinhas cantam em grandes bandos espera-se chuva para breve.
Quando os corvos crocitam vem aí temporal.
Mesmo sobre o corpo humano se fazem observações meteorológicas.
A chuva é anunciada pela comichão no nariz e nos ouvidos.
O mesmo indica a dor nos calos ou nos ossos.
Há épocas em que as chuvas tomam nome especial.
Em Abril - Águas mil coadinhas por um cantil
Em Maio – Chuvas de Maio fazem a gente formosa
Em Junho – Orvalheiras de S. João
Águas verdadeiras pelo S. Mateus as primeiras
Em Outubro – Cordoadas de S. Francisco.
Os rapazes cantam para pedir chuva:
Chove ! Chove ! Chove
Galinha á mol
Que Nosso Senhor
Nos dará pão mol
Para parar de chover
Esteita ! Esteita ! Esteita !
Um saco de areia
Espalha ! Espalha ! Espalha !
Um saco de palha
O arco íris a que se chama também o arco da velha ou ainda arca da aliança é também mimoseado pelos rapazes com esta quadra
Arco da Velha
Tira~te daí
Que as moças bonitas
Não são para ti
O povo tem muitas máximas relativas à chuva:
-Não há rega como a do céu
-Há chuva que seca e sol que rega
-Chuvas na Ascensão, das palhinhas faz pão
-Portugal para ser Portugal há-de ter cheias antes do Natal
-As névoas fazem amadurecer os figos
-Ano de muita água ano de pouca mágoa
-Ano pingueiro enche o celeiro
-A água é o sangue da terra
-Mais vale chover que nevar
Em todas estas observações, algumas bastantes ingénuas, o homem tenta compreender a natureza para se prevenir ou para aproveitar na sua luta pela vida.
Lendas e Romances
A Pastorinha da Lapa
Recolhido no concelho de Elvas
Inda agora vim da Lapa
Quem me dera lá voltar
E ora valha-me Deus
Valha-me a Virgem Sagrada
Só para ver a pastorinha
Que lá ficava assentada
Com uma roquinha á cintura
E uma cestinha á ilharga
E ora valha-me Deus
Valha-me a Virgem Sagrada.
Foram dizer ao marido
Que ela andava enamorada
E ora valha-me Deus
Valha a Virgem Sagrada
Com um sacerdote de missa
E ele na missa não dizia
E ora valha-me Deus
Valha-me a Virgem Sagrada.
Confessa-te, mulher minha
Que hoje te tiro a vida
E ora valha-me Deus
Valha-me a Virgem Maria
Quer m’a tires, quer m’a deixes
Essa tenção era minha
E ora valha-me Deus
Valha-me a Virgem Maria
Peço-te marido meu
Que me enterres na ermida
E ora valha-me Deus
Valha-me a Virgem Maria.
Lá acima ao altar mor
Aos pés de Santa Catarina
E ora valha-me Deus
Valha-me a Virgem Maria.
Lá no fim de nove meses
Um lindo cante se ouvia
E ora valha-me Deus
Valha-me a Virgem Maria.
Quer por dentro, quer por fora
A ermida retinia
E ora valha-me Deus
Valha-me a Virgem Maria.
Foram dizer ao marido
Menina que era nascida
E ora valha-me Deus
Valha-me a Virgem Maria
São José a baptizava
Nossa Senhora era a madrinha
E ora valha-me Deus
Valha-me a Virgem Maria
- Aqui tens marido meu
A vida em que eu andava
Ai Jesus valha-me Deus
Valha-me a Virgem Sagrada.
Quem a Virgem serve bem
Sempre lhe dá boa paga
Ai Jesus valha-me Deus
Valha-me a Virgem Sagrada.
Frei António
Recolhido no concelho de Elvas
Levantou-se frei António
Uma manhã de madrugada
Bate à porta da morena
Morenita mal casada.
Abre-me a porta Morena
Morena da minh’alma.
Não posso frei António
Frei António do coração,
Que tenho meu filho ao colo,
Meu marido pela mão.
O que é isso, ó mulher minha
A quem dás as tuas falas ?
Foi o filho da padeira
Que perguntou se amassava
Se amassava pão de leite
Que não lhe deitasse água
E se era de trigo
Lhe deitasse pouca água.
Levanta-te, bela mulher,
Vai tratar da tua casa.
Levanta-te, ó homem meu
Vai tratar duma caçada,
Manda-me de lá uma lebre
Para á noite t’a ter guisada.
O marido que saía
Ela bem se enfeitava
Ao convento foi passar.
Por Frei António perguntava.
Frei António assim que a viu,
Em vez de correr saltava
Dava-lhe belos bolos
Talhadas de marmelada
E pela mão a levou
Á cela onde dormitava
Ela que vinha para casa
O marido que encontrava.
Onde foste mulher minha
Que vens todo enfeitada?
Venho de dar uns parabéns
Pertencentes a nossa casa
A nossa prima Francisca
P’lo filho que Deus me dava.
Fizeste bem, mulher minha
Fizeste tu, como honrada
Agora o que mereces é uma sai nova.
A primeira que lhe deu
Foi com a tranca da porta
A segunda que lhe deu
Foi co’a tumba já á porta.
Este romance com algumas nuances também se encontra na tradição oral doutras zonas do país

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